Movimento Interfaces: Conhecimentos além dos muros
Nunca em nossa história contemporânea houve um momento em que nossos muros fossem tão reais, embora invisíveis agora. A pandemia e seus contextos nos aproximaram de várias vivências em mesmo pé que nos abriram os olhos para barreiras que estavam colocadas há tempos. O ensino para além da sala de aula sobrevive por ajuda de respiradores, professores estão perdurando entre fendas de um tijolo e outro. Repensando estes contextos, onde necessitamos nos reinventar para ser/estar no mundo, hoje escrevemos a trajetória de um movimento que em mesmo tom que nos fortalece, nos abre caminhos e principalmente nos dá esperanças suleadoras de contextos mais democráticos e possíveis, dentro das impossibilidades que esta sociedade nos coloca em embate.
A necessidade de movimento nos aquecia entre 2015 e 2016. Após um período complexo com vários acontecidos envolvendo atentados, golpes, violação de direitos humanos, eleições atravessadas por discursos de ódio e suas consequências, um capítulo continuava a ser escrito pelos alunos da educação básica e pública majoritariamente. No fim de 2015, os alunos secundaristas realizaram uma série de movimentos ocupando prédios de escolas a fim de reivindicar seus papéis sociais como membros das comunidades escolares. A onda teve início no Estado de São Paulo, com a divulgação de uma nova organização escolar da rede estadual de ensino. A proposta previa, dentre outras pautas, o fechamento de 93 instituições de ensino públicas do Estado de SP.
As aprendizagens deixadas e ensinadas por estes jovens alunos do ensino básico, repercutiu dentro dos muros da universidade, nos levando para dentro das escolas para sentarmos e ouvir deles, seus motivos, suas dúvidas, suas esperanças e desesperanças no movimento, na sociedade e na vida. Essas e outras discussões dentro e fora da universidade nos aqueceram a fazer mais por quem estava além da nossa sala de aula. É assim, que nestes contextos plurais e complexos, o “Movimento Interfaces, conhecimento para além dos muros”, toma forma e quebra barreiras, como nossa arte nos incitava. Fazendo referência à Queda do Muro de Berlim, em 1989, nossa intenção era, através de nossas práticas e do “poder” da universidade, trazer quem estava de fora para dentro, e nos levar para as realidades e diálogos que estavam para além da nossa bolha.
“Voltando um pouco na roda do tempo, vemos a quase cinco anos atrás, duas turmas de Licenciaturas envolvidas em projetos na/com a cidade. História e Pedagogia aproximavam-se de ruas, memórias, histórias de vida, sujeitos invisíveis do ponto de vista do paradigma hegemônico, mas que marcam com suas “burlas” e “táticas”, conforme o historiador Michel de Certeau o espaço do cotidiano. São os “praticantes” inventores de modos de vida, mesmo quando tudo hes parece desfavorável e contrário. (...) Em tempos bicudos e sem graça, de perda de esperanças e ataque à democracia, dizemos Não desse jeito: no Movimento Interfaces, com o outro, reafirmando a educação como um direito e uma via importante para modos de vida que não sejam contabilizados pelo dinheiro que se tem no bolso ou pelo conteúdo do currículo lattes ou pela posição ocupada em postos de poder, mas, sim, pelo uso que se faz do conhecimento legado, pelo compromisso com a superação dos abismos sociais e pela capacidade de estabelecer um diálogo intercultural capaz de fazer recuar ódios irracionais em favor de todo e qualquer ser vivo!!” (Trecho da Carta apresentada na época para proposta do Movimento Interfaces 2016)”;